O Negro, o “anacronismo” e o pau-brasil
A neoparditude, movimento de ataque ao conceito de pardo enquanto parte da população negra, fato histórico, antropológico e legal, insiste na deturpação da lógica, a fim de tentar emplacar uma “solução” fácil para o seu sentimento de limbo identitário. Já que em rápida visita à história colonial e imperial, ao conceito da hipodescendência (que não se confunde com a ideia racista de “one drop rule”), a normativa censitária do IBGE e a definição LEGAL dada pela LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010. LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010, o Estatuto da Igualdade Racial esse “limbo” é em grande parte psicológico.
Não podendo negar o fato que durante 48% da História do Brasil, até 1755/58 indígenas e descendentes dividiram com africanos e descendentes a condição de NEGROS, cujo sentido no contexto da conquista e colonização do “novo mundo” era o de ESCRAVIZÁVEL/ESCRAVIZADO, não um sinônimo de COR preta, ou perfeito de africano/afrodescendente, apelam então para a acusação de ANACRONISMO.
Interessante é que assim fazem um uso extremamente seletivo do termo conceito de anacronismo. Não dizem o mesmo por exemplo do uso de “caboclo”, termo/conceito também considerado injurioso e abolido pela coroa exatamente no mesmo ano em que os indígenas foram libertos da pecha de “NEGROS DA TERRA”. Igualmente não se envergonham em falar em “mestiço”, termo biologizado e esse sim muito anacrônico, visto que utilizado uma única vez censitariamemente ainda no século XIX, foi abandonado por inapropriado.
Aliás, também é anticientífico vez que definitivamente descartada a equivocada e setecentista ideia de raças diversas entre humanos, a “mistura racial” entre homo sapiens sapiens se revelou uma falácia e incongruência, não há “mestiços” humanos, simples assim.
É deveras complicado não considerar que situações presentes, são reflexo do passado e não é possível simplesmente ignora-lo na composição de categorias atuais. Vamos a um exemplo bem eloquente.
Na gênese nacional, o processo de colonização da terra de Pindorama pelos portugueses, a primeira atividade econômica foi a exploração do pau-brasil. Fato que acabou por dar novo nome ao território, mas não apenas isso, se tornou gentilicio dos aqui nascidos. Até hoje, somos BRASILEIROS, mesmo que explorar pau-brasil não seja mais uma atividade geral dos habitantes do país, e coisa vinda lá do século XVI.
É “anacrônica” a nossa identidade nacional, apenas porque não temos mais “brasileiros” no sentido original? Penso que não… .
Pois é, hoje temos o termo afrodescendente, e a noção que ele pode ser empregado para definir toda população resultante do tráfico negreiro transatlântico, aparentemente miscigenada ou não. Nem por isso deixamos de ser “negros”, pois nossos antepassados o foram, mesmo que não gostem de lembrar, os dos indigenadescendentes também… . 🤷🏿♂️