ISABELLE NO BBB, OU IDENTIDADE ESSA GRANDE DESCONHECIDA
Ao ficar sabendo que a Cunhã-Poranga do Boi Garantido estava no BBB 24, na hora pensei “lá vem mais uma temporada de ‘shows’ de desconhecimento, preconceito, ufanismo e problematização neoativista” .
No ano passado tivemos uma polêmica local no Amazonas por conta da dançarina Luana do boi de Parintins, que queria a todo pulso ser “indígena” Satere-Mawe, enquanto esses últimos lhe negavam o reconhecimento de tal condição.
O novo fato Isabelle reacende o “circo de horrores” que é esse tipo de discussão quando chega em nível popular massivo, demonstrando o baixo nível de letramento racial geral, inclusive de pessoas com nível de instrução e/ou vivências onde isso não deveria acontecer.
O amazonense vive uma relação meio bipolar (relação de humor) com o tema, talvez até algo como um transtorno dissociativo de identidade, onde duas ou mais identidades se alternam no controle da mesma pessoa. Isto é, em um momento quer ser indígena, “buscar raízes”, reconhece e se orgulha delas, em outro nega premptoriamente essa raiz, se ofende ao ser referenciado como tal, só lembra dos avós “portugueses e cearenses” nunca de algum indígena, mesmo a ascendência estando literalmente “na cara”, nos cabelos, na cor e alguns costumes.
A identidade gira em torno de 3 eixos, como a pessoa se vê, como é vista pelos outros e a realidade, essa última sendo influenciadora e influenciada pelas duas primeiras.
A disparidade de posicionamentos mostra que ainda há muito a caminhar nessas questões de identidade. Aqui tivemos vereador torcendo para Isabelle e a referindo como “indiona”, público aplaudiu, no programa um participante usou o termo, geral aqui e fora se doeu… .
Ministra dos povos originários comemorou a entrada, “representatividade”.
Já a própria Isabelle nunca se declarou como indígena, apesar de representar o personagem da beleza e força da mulher originária no festival dos bois. Talvez pela consciência que a mera ascendência e a “pinta” de indígena não faz ninguém de fato indígena, uma condição cultural e de pertença que não é só questão de querer mas de ser. Exceção para a visão do outro, especialmente o não-indígena, que reduz tudo ao que se expõe na retina, principalmente se for para preconceito e discriminação.
Também complicado ver a briga promovida por neoativistas, inclusive indígenas, metade falando em apropriação, farsa… e a outra metade atribuindo arbitrariamente uma identidade que nem a própria Isabelle assume… .
Espero que ao fim e ao cabo dessa rodada de foco midiático na questão em nível nacional, se tomem posições mais coerentes sobre o tema.