Os “primos” no Amazonas
A referência no título é por um tratamento que já foi comum entre imigrantes e descendentes do oriente médio, “primo”.
No Amazonas, não foi diferente. Ocorreu também essa imigração notadamente entre fins do século XIX e primeiras décadas do XX. Por isso na verdade temos comunidades “árabe” e “judia” que viveram em harmonia por tempos. Falar em “israelenses e palestinos” é uma imprecisão, que não refletia as identidades majoritárias dessas comunidades, pelo menos não aqui e na época que chegaram. Hoje algumas coisas mudaram.
Essa harmonia local e tradicional entre tais comunidades pode ser observada inclusive nos casamentos do início do século XX, entre “turcos” (isto é, na verdade sírios, libaneses, jordanianos, turcos e “palestinos”) e judeus de várias nacionalidades.
Ao falarmos em “judeu” estamos nos referindo à um grupo étnico ou religioso e condições não necessariamente sobrepostas. Nem todo judeu étnico (de origem) é de religião judaica.
Importante destacar que israelenses são apenas os cidadãos do estado de Israel, surgido em 1948 em função do fortalecimento do movimento sionista no pós-segunda-guerra.
Logo, apesar de Israel ser um estado judeu, criado por e para judeus, essa sobreposição de “israelense” e judeu não atinge necessariamente todos judeus e vice-versa.
Importante lembrar também que os termos “israelita” e “israelense” NÃO SÃO SINÔNIMOS, o primeiro se refere à uma origem étnica, ligada a HEBRAICA e portanto empregada em sentido étnico ou religioso. O segundo é uma NACIONALIDADE e também histórica e cultural fortemente vinculada ao SIONISMO, movimento de direta nas bases da fundação e atuação do estado israelense.
Por sua vez “palestino” é um termo tradicional vindo de “Palastus” o nome dado à região pelos antigos romanos. Já os gregos a chamavam de “Philístia”, daí o termo “filisteus”, de uso mais bíblico.
A região já foi também chamada de “Síria Palestina”. Esteve sob controle dos Impérios romano, bizantino, turco-otomano e britânico, ao longo de mais de 20 séculos.
Em suma, palestinos são os povos que sempre ocuparam a região. Inclusive nos tempos bíblicos, em tensão com os israelitas. Porém continuaram por lá por 19 séculos, após a diasporização final do povo judeu, nos anos 70 da era cristã.
Os ditos palestinos tem cultura árabe e majoritariamente são mulçumanos, mas também há os cristãos. Ao contrário dos “irmãos” vizinhos que se configuraram em países independentes e nacionalidades consolidadas, os palestinos ainda lutam pela efetivação disso, mas enfrentam a resistência israelense e ocidental.
Voltando ao Amazonas…
As primeiras famílias hoje vistas como “palestinas” chegaram a Manaus ainda na época do Império turco-otomano (que acabou em 1922). Por isso portavam passaportes turcos, e eram assim genericamente chamados. Já as judias, chegaram antes da existência do estado de Israel, criado em 1948, vindas por exemplo do Marrocos, os chamados sefaradis.
Sim, houve também imigração principalmente de palestinos, posteriormente ao advento do estado de Israel. Porém não havendo as questões práticas do antagonismo lá na região conflituosa, por aqui se sobressaem os laços culturais enquanto povos de origem abraâmica e ancestralidade geográfica “compartilhada”.
Além é claro dos laços familiares diretos criados ao longo de mais de século.
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