Com a guerra da Ucrânia o ocidente mostra sua verdadeira face
Antes de colocar minhas palavras, vou colocar as reflexões de algumas figuras “insuspeitas” e respeitadas no contexto global, além de uma repercussão midiática que está sendo seletivamente ignorada.
Há 8 anos atrás, Slavoj Žižek, globalmente conhecido teórico esloveno publicou o artigo“O que a Europa deveria aprender com a Ucrânia”, nele se lê “Os protestos que derrubaram Yanukovich e sua gangue foram desencadeados pela opção do governo por priorizar sua relação com a Rússia sobre a integração com a União Européia. Como era de se esperar, muitos esquerdistas reagiram à noticia dos protestos massivos com seu habitual tratamento paternalista e racista dos pobres ucranianos: o quão iludidos estão, ainda idealizando a Europa, incapazes de ver que ela está em declínio, e que se juntar à União Européia só fará da Ucrânia uma colônia econômica da Europa Ocidental” [..] a contribuição singular da Europa ao imaginário político global, mesmo que seja hoje mais e mais traída pelas instituições europeias –, e ainda, entre esses dois pólos, a ingênua confiança no capitalismo liberal-democrático. O que a Europa deveria ver nos protestos ucranianos é sua própria imagem, no que tem de melhor e de pior. O nacionalismo ucraniano de direita é parte de uma renovada voga populista anti-imigrante que se apresenta como a defesa da Europa.”
Agora em plena guerra Žižek, pública outro artigo “O que significa defender a Europa?”, em que diz entre outras coisas: “Após o ataque russo à Ucrânia, o governo esloveno imediatamente proclamou a sua prontidão para receber milhares de refugiados ucranianos. Como cidadão esloveno, senti-me não só orgulhoso como também envergonhado. Afinal, quando o Afeganistão caiu para os talibãs há seis meses, esse mesmo governo recusou-se a aceitar refugiados afegãos, argumentando que eles deveriam ficar no seu país e lutar. E há alguns meses, quando milhares de refugiados – principalmente curdos iraquianos – tentaram entrar na Polónia vindos da Bielorrússia, o governo esloveno, alegando que a Europa estava sob ataque, ofereceu ajuda militar para apoiar o vil esforço da Polônia para os manter afastados.” [..] Não basta “defender a Europa”. A verdadeira tarefa é persuadir outros países de que o Ocidente lhes pode oferecer escolhas melhores do que a Rússia ou a China. E a única maneira de conseguir isso é mudarmo-nos a nós mesmos, desenraizando impiedosamente o neocolonialismo, mesmo quando ele vem embalado como ajuda humanitária. Estamos prontos para provar que, ao defender a Europa, lutamos pela liberdade em todos os lugares? A nossa vergonhosa recusa em tratar os refugiados da mesma forma envia ao mundo uma mensagem muito diferente. ”
Agora vamos à reflexão do ex-presidente do Uruguai, José Mujica em “Sul sem consciência: Ucrânia e os subúrbios esquecidos do mundo, em vídeo no DW: “Se fosse na África não teria essa repercussão. O que acontece na Europa é muito mais humano do que o que acontece em outros lugares. Por isso segue existindo um colonialismo intelectual que nos subordina [..] A Europa, o mundo, os EUA, não pensaram nas medidas que tomam, nas consequências que têm para muitas pessoas. Quando poderão a Europa e o mundo olhar para o mundo inteiro pelo qual são responsáveis?” .
Fatos intermediários
Racismo
Neonazismo
Governo chinês e outros não OTAN
Nossas considerações
No que pese o fato de ser condenável todo desrespeito à soberanias e todo processo violento que faça vítimas, em especial civis inocentes, conflitos armados fazem parte da história e ocorrem por N motivos, de busca de ampliação de dominios a disputa por recursos, passando por ricas por diferenças étnicas. A maioria por falha da diplomacia, mas há também os motivados por pura “falta de noção” de governantes .
Zizek e Mújica já tocaram nos verdadeiros pontos centrais desse conflito, a “vontade de ser ocidental”, a irresponsabilidade com a paz por parte das hegemonias ocidentais, mas não deixaram de observar um fator importante nas consequências e reações ao conflito na Ucrânia, a SELETIVIDADE RACISTA.
Acompanho a reflexão de ambos e reforço, sim, a guerra na Ucrânia está mostrando o quanto a mentalidade global está introjetada de etnocentrismos e racismos mesmo.
“Defesa da Europa” por parte dos europeus faz parte de uma ideologia excludente e não empática com os não europeus, e leia-se, especialmente pelos europeus ocidentais.
A comoção seletiva ocidental em geral não escapa também à esse aspecto, EUROCÊNTRICO, introjetado nas mentalidades ocidentais. Afinal Europa é a raiz da América colonialista. Essa mentalidade colonial define o que gera empatia e o que não gera. Daí termos um mundo que projeta na Ucrânia uma solidariedade que não é apenas humana, mas principalmente BRANCA, além disso não apenas branca, branca e “euroestadunidense”, daí a também visível RUSSOFOBIA.
Não se trata na verdade simplesmente de uma questão humanista, o mundo pouco tem “se lixado” por invasões, mortes de civis ou soberanias de países não “europeus” (leia-se “brancos”) . “Ah! mas a Rússia também é européia…” se adiantariam alguns, sim mas parcialmente… Rússia é Eurásia, o encontro de ocidente e oriente. Nesse caso parece valer a mesma antropológica regra da HIPODESCENDÊNCIA, ou seja, se não é “pura e integralmente” ocidental, então é oriental… .
Daí uma tendência “russofóbica” que não é nenhuma novidade, coisa que aliás se acentuou quando do surgimento da extinta União Soviética. A URSS deixou de existir e mesmo de ser “comunista”, mas a Rússia não deixou de encarnar no imaginário popular o grande perigo oriental “vermelho” prestes a acabar com o “modo de vida ocidental”, por isso existe OTAN e por isso por fomento do líder EUA, temos uma bem orquestrada manutenção e acirramento da russofobia nas mentes ocidentais.
Portanto, esse conflito atende diretamente aos interesses dos EUA na sua estratégia pela manutenção do protagonismo global, principalmente depois de ver a China lhe ultrapassar no nível tecnológico, uma briga acirrada pela primazia comercial e saídas “vergonhosas e apressadas” de invasões americanas. Ainda está fresquinho na memória a cena do “Saigon de Biden” no Afeganistão em 2021…
Reavivar o espírito da guerra fria e reabilitar a imagem de “xerife do mundo e democracia” é uma necessidade mais que evidente dos EUA, que para isso usa a OTAN e a Ucrânia para atingir o objetivo.
Essa guerra portanto não aconteceu “do dia para a noite” muito menos sem o fomento dos EUA, a Ucrânia é apenas um joguete nas mãos da aliança ocidental, como se diria no futebol, uma “catimba” para provocar “pênalti” na Rússia.
Ah! e para você que acha que não é em nada afetado pelo eurocentrismo e mentalidade racista nas suas opções porque é brasileiro e não tem “dessas coisas” no Brasil, vale lembrar que o desejo de ser “europeu” e o “amor” do brasileiro à sua “ascendência mais conveniente” já foi inclusive manifestado em lei…
A mentalidade racista introjetada e no mais das vezes insconciente não exclui o brasileiro da mente colonizada e “empatia europeia” automática e seletiva.
Resumindo, ter posição diferente de simplesmente ser contra a guerra torcendo pelo seu final breve, isto é, tomando lado como se fosse um simples FLA-FLU é um EQUÍVOCO.
Ninguém está seriamente “torcendo pela Rússia” em uma invasão mesmo provocada…, nem mesmo os “comunistas” que porventura ainda associem Rússia e comunismo, não tem ninguém do ocidente se voluntariando para “ajudar” a Rússia a combater contra ucranianos. No entanto “o mundo ocidental” está torcendo pela Ucrânia, pelos motivos já explicados, e isso admite inclusive “passar pano” para todo o racismo, neonazismo e fascismo REALMENTE E REGISTRADAMENTE envolvido na questão.
Enfim, não esperem de mim, conhecendo meu lugar de fala de pessoa antirracista, de conhecedor de história e geopolítica e não alinhado ao pensamento eurocentrista e colonialista, além de ser um “esquerdista social liberal” e antifascista, um posicionamento que me faça “ombrear” todo tipo de radicais de inclinações nazifascistas, além de pessoas que mesmo sem perceber, são na verdade “eurocentrados” de mentalidade seletiva tendente ao racismo e à manipulação neocolonial ocidental. Prefiro simplesmente a paz, sem “FLA-FLU” seletivo, apenas com bom-senso. E como dizem o chineses, a História provará quem ficou do seu “lado certo”.