SOBRE O “DEBOISMO ‘NÃO FAZ MAL, TUDO BEM’…”
Uns dos grandes problemas nas análises de questões sociais é primeiro não perceber questões “fora do radar” do recorte do analista, segundo, não perceber as conexões entre problemas aparentemente distintos mas que interagem e se realimentam, e por fim, não entender que a “inação solidária” ou seja, a falta de ação pelo “outro” ou a falta de alteridade, provocam interpretações falaciosas e pior mascaram e acabam por apoiar o nefasto.
A ideia de que “minha ação, ou falta dela, ‘não ofende’ ou causa mal a outro, vai ao contrário do bom senso. O INDIVIDUAL NUNCA PREVALECE SOBRE O COLETIVO, O direito de um vai até aonde começa o direito do outro, o individual não prevalece sobre o interesse coletivo. Isso inclusive é conhecida premissa jurídica (vide imagem ao fim).
O que o EGOÍSMO não deixa entender é que PARA A PESSOA ou seu recorte “não há problema nenhum” ela está apenas exercendo “sua individualidade, sem prejudicar ninguém”, mas não é exatamente assim… . A individualidade se dá no âmbito PRIVADO, no coletivo ela interage com as REGRAS DO COLETIVO e com as IMPLICAÇÕES nele.
“Posso andar pelado, não estou fazendo mal para ninguém” é a premissa do “deboista”, sim, pode, mas no âmbito do privado ou no máximo de um coletivo fechado, não pode fazer isso em público, porque não está OK para todo mundo. Posso beber e dirigir “sem fazer mal a ninguém” ? Posso… só tenho que estar ciente que preciso “manter o limite”, mas também que mesmo que “não faça mal a ninguém” pego em via pública posso ser punido por desrespeitar a lei… . Ah! Não quero tomar vacina, nem usar máscara, “não estou fazendo mal a ninguém, é minha liberdade”, ERRADO ! A vacina e a máscara são pacto social, quem não se previne está ajudando a manter e ampliar o mal.
O “deboista” valoriza as “liberdades individuais”, tudo bem, elas existem e devem existir, mas nunca causando problemas (mesmo não direta e imediatamente visualizados). Se tem todo o direito de ter mentalidades preconceituosas ou ao contrário “não hegemônicas”, complica quando elas se materializam ou podem materializar em discriminação negativa efetiva de outros, ou falta de resolução de problemas de outros. Se não quero lutar contra o racismo e outros “ismos” tá “de boas, não estou ativamente ‘fazendo mal’ à ninguém” mas estou passivamente ajudando o mal… .
Coisas que se acham “OK” ou “que não prejudicam ninguém” podem produzir efeitos negativos em outras “pontas” de um problema relacionado mas não visualizado, pois não se considera a parte que atinge “o outro”, pura falta de empatia, egoísmo mesmo… (meu problema está ‘resolvido’, ou visão atendida lasquem-se os outros).
Está cheio no mundo de causas aparentemente justas para uns ou poucos, mas que estruturalmente causam problemas para muitos. Então é sim grande equívoco “deixar correr frouxo” ou apoiar causas dúbias e que mais podem causar prejuízo coletivo geral que avanços reais e benéficos para a maioria.
Portanto sempre pense bem, no que a sua omissão ou “tolerância acrítica” e individualismo podem provocar, você pode até não perceber, mas seus posicionamentos “deboistas” e individualistas (egoístas mesmo) podem ajudar a manutenção ou inclusão de fenômenos coletivamente nefastos para outros….
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