2 de outubro de 2024

Resolvi escrever sobre o tema no blog ao invés de direto no Facebook, pois penso que o assunto merece menos efemeridade.

Umas das coisas que invariavelmente me deixam constrangido é em algum evento público em que sou convidado com assento e fala, alguém me apresentar como representante do movimento ou da comunidade negra. Sempre que possível lembro que não tenho essa “procuração” representativa, mas que estou ali na condição de ativista ou estudioso para dar minha contribuição pela causa negra, emprestando a minha voz aos interesses dela.

O dicionário online diz que representação é (separados os sentidos contextuais):

E representante:

Pois bem, embora alguém possa me tomar como “ideia ou imagem concebida de alguma coisa”(no caso pessoas negras), “modelo ou tipo de uma classe ou categoria”, certamente não o sou…, tampouco “recebi poder para agir em nome de outrem” ou “delegação de poderes pelo povo”. Logo, na verdade não represento, muito embora muitos entendam que minha cara preta seja suficiente enquanto “representação”.

Chegamos ao ponto que desejo sustentar. Enquanto pessoas negras e ativistas não somos modelo, nem representamos toda diversidade da classe. Não apenas nos movimentos negros, mas nos de outros recortes é um “pecado” comum, achar que “tod@s” do recorte pensam com a cabeça de ativista ou letrado temático. Pelo contrário, a esmagadora maioria está fora de um processo de conscientização/letramento, os pressupostos que temos, não necessariamente são os mesmos da massa, e as vezes vão em direção contrária à realidade.

Por esse motivo, costumamos “tomar sustos” quando o que vem de fora de nossas bolhas de sociabilidade e pensamento, parece se chocar violentamente contra nossas premissas, e de certa forma “deslegitimando” o nosso discurso.

Isso é um grave problema? Não se entendemos que nosso pensamento refletido e embasado, não é o pensamento “natural e espraiado” de nossas bases. Aí nos resta visualizar a realidade e admitir que talvez tenhamos que “descer do pedestal moral” e aumentar a tolerância com quem diverge, até por inconsciência, ou lugar de fala distinto.

Nossa missão é conquistar corações e mentes, e isso só se faz com paciência, diálogo, alteridade e persistência. Essas são ferramentas indispensáveis da conscientização. Além de conhecimento vindo de boas fontes.

Nem digo que é preciso “ir aonde o povo está” como diria Milton Nascimento, mas é bom saber onde ele está e o que ele pensa… .?

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