Coringa: a ascenção dos palhaços medíocres e enlouquecidos.
Ao sair do cinema prometi que ia ter “textão”, agora acho que não será assim tão extenso, mas de certo minhas impressões e reflexões estarão nas linhas abaixo.
Não vou fazer redundantes loas à atuação magnífica do protagonista dessa última versão do velho “Joker”, todas anteriores tiveram suas impressionantes e inovadoras atuações, Phoenix é “o melhor da vez”.
O filme é todo “maravilhoso” em todos os aspectos, será um “celeiro de oscares”, então vou direto às minhas impressões e reflexões.
O filme é TODO do Coringa, não notei uma única cena aonde ele não estivesse “presente” ou em perspectiva, até nos “flashbacks” lá estava ele. A primeira conclusão a que cheguei é que o Coringa é um produto das circunstâncias, o resultado de uma infância cruel, de uma “vida perdedora” e de um ambiente hostil e desumanizador, não descartada a sua própria loucura, que até poderia ter ficado sob controle, não fosse a insistência da vida em traze-la ao exterior e potencializa-la ao extremo.
Daí que oscilei entre a empatia inicial com o personagem e o horror com o que se tornou no processo, Coringa é um vilão desprezível e já pouco importa se foi vítima das circunstâncias, é um louco desnecessariamente cruel.
Agora, o que me tocou especialmente, é o link com o contexto em que vivemos. Impossível não associar com o Brasil de hoje, o símbolo que o Coringa se tornou dos frustrados medíocres e “justiceiros” palhaços de Gotham City (não sei se isso pode ser considerado Spoiler, mas não tem como eu falar de um filme sem citar minimamente coisas que ocorrem nele. Ademais penso que isso não atrapalha em nada, pelo contrário, como diz essa matéria da Rolling Stones).
Como não ligar a imagem de um “líder palhaço”, medíocre e violento, quando temos hoje no comando da nação um líder que se distinguiu por uma risada, piadas sem graça de “tiozão do pavê”, uma “tosquice orgulhosa”, defesa de pautas violentas e tem o apelido de BOZO (justamente um palhaço célebre) ???? .
Me impressionou, o que os atos violentos do Coringa, mesmo os não premeditados fizeram afluir na população frustrada de Gotham, a “identificação” e aprovação popular revelou que ele não estava só, ao “subirem a hashtag” #somostodospalhacos, eu vi o meu país de hoje, com uma parte da população ensandecida e agindo como “gado” em um estouro da boiada.
Quando esse “gado” se sente representado e animado por uma liderança, ele começa a atuar como a conhecida analogia do “Guarda da esquina”, a partir dos seus exemplos, discursos, ou ao menos o que imaginam ser as mensagens expedidas. O ódio que o Batman nutre pelo Coringa, não foi por um ato direto dele, mas por ele provocado. Essa ascenção dos palhaços empurra Gotham City para o caos, para a ditadura da mediocridade, da tosquice e da necropolítica.
Gotham City é aqui.