A turma do “bandido bom é bandido morto” e o ensimesmamento fatal
Inicio esse texto pedindo desculpas antecipadas a quem possa entender que com a referência ao ensimesmamento (uma das características do autismo, a de se fechar em si e ficar alheio à realidade que o cerca) eu esteja fazendo uma referência associativa e pejorativa com o autismo, não estou, e por isso mesmo não utilizei no título o termo autismo ou autista, como muitos articulistas tem feito, com o sentido de reforçar a ideia de alheiamento social ou da não escuta dos outros, aproveito para recomendar este excelente texto sobre autismo e uso politicamente incorreto do termo.
Partindo agora para o objeto do texto, é impressionante verificar o quão disseminada é a ideia do “bandido bom é bandido morto”, pessoas de todas as categorias vibram com a notícia de que o meliante tal foi fulminado em confronto com a polícia, ou eliminado pelas mãos de desafetos, mais ainda quando ocorre pelas mãos de uma vítima tentada que reage.
Quem se posiciona contra essa “ideologia” é imediatamente taxado de “defensor de bandido”, pecha que aliás é atribuída a qualquer um que compreenda do que se trata Direitos Humanos e porventura lembre em algum comentário, que os agentes do estado, em especial os da lei e da ordem devem por obrigação legal respeitar primariamente as convenções relacionadas.
Não importa que se considere válida a inevitável baixa do criminoso em confronto armado com a polícia, para os ensimesmados do ” ‘mantra’ bandido bom é bandido morto” toda morte de criminoso é “válida e comemorável”…, mesmo que desnecessária, covarde e ilegal, porém incrivelmente se calam e “não enxergam” quando gente inocente é morta confundida com bandido (mesmo que ocorra as dezenas e de uma só vez), e se você não raciocina e se manifesta assim é “defensor de bandido”.
O que esses ensimesmados não entendem, é que ao fazer apologia do “bandido bom é bandido morto” estão colaborando para uma cultura de violência (seria bom lembrar que alguns dos principais difusores dessa ideologia, são eles mesmos bandidos, já que também não seguem a lei, aqui no caso de Manaus, não é nem preciso citar nomes, já é História e conhecido um caso muito ilustrativo), fomentam portanto violência da qual qualquer um (inclusive eles mesmos, seus filhos, parentes e amigos) pode ser a próxima vítima, acreditam piamente que por serem “gente de bem” estão imunes ao erro de pessoa, truculência e até morte por parte dos mesmos truculentos e matadores sumários que tanto festejam.
Quando esse tipo de mentalidade vem de pessoas que por suas características socioeconômicas e fenotípicas se encontram em grupo privilegiado ( no qual tal tipo de erro de pessoa raramente ocorre), até se entende a atitude de alheiamento, não são de fato vítimas potenciais e “preferenciais” do erro de pessoa, quem vai morrer é sempre “o outro”, coisa que já não se pode considerar para os que também por suas características se encontram no perfil de alvo potencial de desrespeitadores dos DH e matadores sumários, esse alvos potenciais porém, simplesmente não percebem isso, correm tanto perigo quanto alguém que não tem noção do perigo, aliás correm mais, pois alimentam o perigo que pode ceifá-los ou aos entes queridos.
Outro dia criei um jpeg que dá conta dessa situação e da redução da maioridade penal, em um jogo que deixa aberta com qual situação a pessoa se identifica e o resultado: