5 de dezembro de 2024

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Talvez tenha passado desapercebido para muita gente, mas salvo enorme engano, hoje aconteceu um fato inédito na TV brasileira, pela primeira vez tivemos a interação direta de dois negros na tela do mais importante noticioso televisivo nacional, o âncora substituto do Jornal Nacional, Heraldo Pereira e a “moça do tempo”, Jornalista Maju Coutinho.

Para quem tem naturalizado ver essa ação exclusivamente entre brancos por décadas e mais recentemente com interações entre brancos e negros, ou deve ter sido um choque, ou pela inconsciência sobre  as características do racismo brasileiro, não deve ter percebido o momento singular (que poderia ser uma coisa banal e natural em uma população que é praticamente metade branca e metade negra, mas não é… ).

O JN tem 46 anos, o que significa cerca de 11 mil edições diárias, pela lógica estatística, considerando as características populacionais brasileiras isso poderia ter ocorrido naturalmente pelo menos 5.500 vezes, mas não, a razão real é de 1/11000, não deveria ser motivo para “comemoração”, porém apesar do número completamente desfavorável é sim um avanço a registrar e um passo a mais no caminho de uma efetiva igualdade.

Realmente as coisas começam a mudar… .

Sobre o autor

0 thoughts on “Isso é histórico ?

  1. Na verdade “ninguém” deveria sequer “perceber” diferença alguma.
    Nem para enaltecer, criticar, instigar, fomentar qualquer tipo de reação, positiva ou negativa. Somos todos iguais, …branco com branco, branco com negro, negro com negro…que diferença faz??? Sejamos todos simplesmente “humanos”

    1. Muito bonito, espero que um dia “ser simplesmente humanos” se torne uma realidade efetiva…, porém enquanto isso não acontece (sim, na prática a desigualdade existe) vamos sim perceber e questionar se for o caso tanto os eventos negativos, quanto os positivos; pois é muito fácil “não perceber nada” quando não se está entre os histórica e tradicionalmente prejudicados e desigualados, 46 anos de Jornal Nacional ( quase 11 mil edições diárias) em que “ninguém percebeu” que em um pais com metade da população negra, a ostensiva e exclusiva presença branca se deu…, evoluindo para uma presença branca mas também negra e em 11 mil vezes pela primeira vez com dois negros ao mesmo tempo…; temos que perceber sim e comemorar esse evento que poderia e deveria ser banal, mas está claro pelo inusitado que não é.., igualdade efetiva só existirá quando eventos como esse em espaços sociais importantes deixarem de ter a razão de 1/11000…

    2. Não somos todos iguais não. Olhe direitinho em volta e você vai ver que o fato de sermos seres humanos, e pela lógica mais óbvia, pertencermos s mesma raça, há muito séculos instalaram-se critérios que visam nos diferenciar. Não é frases como somos todos iguais que vai resolver a questão do racismo no nosso país, precisamos ,ao contrário, legitimar a diferença e respeitar pluralidade da nossa etinia.

      Não somos todos Maju, por exemplo. Antes fóssemos, mas também não sei se a questão estaria resolvida. Ser pró a uma causa não é a mesma coisa de ser a pessoa que vive a experiência de realmente ser.

      Maju é ela mesma todos os dias. É, além de várias outras coisas, uma mulher negra que se empoderou ao longo da vida e sabe de sua inteligência e beleza, mas que deve ter vivido muitos dias em que sua consciência quis duvidar, como muitas meninas e mulheres espalhadas por esse Brasil. Somos todxs elas também?

      Não. Nem somos todos Maju. Nós somos quem somos e vivemos como podemos. Alguns de nós em algum momento da vida acorda e consegue fugir do show de Truman que vive, rasgando o cenário que parecia vida real. E passa a ver as coisas do mundo com lentes mais humanas e respeitosas.

      Mas nós, que não somos todos Maju, amanhã vestiremos roupas de nós mesmos e iremos nos calar diante das inúmeras situações de humilhação que as pessoas negras vivem. Se o sucesso do outro incomoda, o sucesso do outro-negro parece incomodar mais. O racismo no Brasil está no ar que respiramos, como diz Mário Theodoro.

  2. /\ Disse a branca. Para você é fácil, pois está incluida, acostumada a sempre ver os brancos na TV. Agora para um negro, ver dois negros na TV, deve sim ser comemorado.

  3. O Brasil é um pais retrógrado, isso deveria ser normal e não histórico, histórico seria se colocassem duas jornalistas trans. Isso sim seria histórico.

    1. Deveria ser normal Marcos, mas infelizmente não o é, por isso é histórico, a população negra faz parte da composição brasileira na ordem de 50% ( já foi muito mais) e está no processo de tentativa de inclusão há séculos, absolutamente não dá para comparar minimamente com a questão trans, que apesar de válida e importante, não rivaliza em termos estatísticos, culturais e históricos com a questão negra.

  4. Isto não aconteceu por acaso. Devido aos ataques dos racistas a moça do tempo, a direção do Jornal fez isto como respostas a este ataque. Vamos torcer pra que a cena se repita independente dos seus reais motivos.

  5. Por que perceberam essa diferença? Isso é hipocrisia na minha opinião. São apenas dois profissionais, competentes, independente de sua cor. Poderia ser dois brancos, pretos, não importa… Fico imaginando quando essas pessoas que ver algo de diferente passará a ver igualdade, pois são cidadãos, iguais a qualquer outro. Chega de discriminação!

    1. Ana Maria, um dos principais problemas do racismo brasileiro é justamente as pessoas “não perceberem” que um evento que realmente deveria ser normal e corriqueiro, simplesmente não acontece…, acham “normal” que brancos interajam exclusiva e diretamente 11 mil vezes por 4 décadas, quando finalmente ocorre a primeira vez com negros, entendem que não deveria ser percebido e comentado, pois ai é “racismo”, é fácil ignorar a exclusão quando não se faz parte do grupo excluído, nem se está buscando inclusão, mostrar que um evento que acontece 11 mil vezes com brancos até que aconteça pela primeira vez com negros, é apenas chamar a atenção para o que os que se acham “igualitários” e “não racistas” simplesmente não enxergam…, o quanto é na prática diferenciada a mobilidade social em função da cor…, e não vai ser fingindo que o evento é uma coisa comum e não uma raridade óbvia, que se vai realmente conscientizar as pessoas para a necessidade de uma igualdade efetiva .

      1. Essa argumentação é tão válida e coerente quanto dizer que o “pardal” (ou “corujinha”) é que aumenta as infrações de trânsito, como se elas nunca tivessem existido…, não se vai corrigir a tremenda distorção que é a desigualdade comprovadamente produzida pelo racismo, fingindo que ele não existe e que a “cor não faz diferença”, fácil dizer isso quando a sua cor aparece ostensiva e exclusivamente em uma situação de prestígio por 4 décadas, nesse fato “não há nenhum sinal de discriminação”…, a “discriminação” será gerada pela observação que pela primeira vez em onze mil, outra configuração de cor chegou lá também, sinceramente… a mentalidade racista (e geralmente inconsciente) do brasileiro que acha que não é racista é uma enorme montanha a desbastar no caminho da verdadeira igualdade.

  6. Acho Sim um Grande Orgulho para nós Negros…. Pois nos deparamos dia a dia com situações de racismo e desafetos… pois só quem está na pele sabe. Além disso , imaginem oque a Maju e Eraldo passaram até chegar onde chegaram …… e oque passam no dia a dia as indiferenças, porém tem com eles uma força, um foco, que fazem deles resistentes e não basta estarem lá apenas …tem que se manter lá este é o maior dos desafios porque não basta serem …simpáticos ,educados , elegantes, bonitos…….Tem que ter oque para qualquer um seria uma vez, mas para eles tem que ter o dobro de COMPETÊNCIA , pois em um País onde negros …..poucas chances se tem independentemente de cotas…..temos que ser Competentes e Insistentes .

  7. Juarez, fiquei feliz ontem por ver a interação desses dois excelentes profissionais. Realmente deveria ser normal se nós tivéssemos profissionais negros sendo reconhecidos pela sua competência em todos os ramos do conhecimento. Mas infelizmente, sabemos que o tom de pele ainda influencia bastante e exclui muitas pessoas talentosas. Nossos adolescentes e nossas crianças negras, precisam se espelhar nesses e em outros talentos e saber que é possível. Grande abraço!!!

  8. Entendo o lado que vê esta situação como avanço, mas na minha opinião ainda é um atraso. Avanço mesmo seria não precisar apontar uma ou outra oportunidade “recebida” ou alcançada por alguém, com muita luta. A aí então sería claro o entendimento de que somos iguais. Somos iguais e pronto. Sinto pena dos pobres idiotas que não enxergam as riquezas do seu próximo.

    1. A questão é justamente provar que a igualdade não é efetiva pois não se materializa ou o faz de forma tão rara que quando ocorre se torna um “marco”… , é preciso sim registrar esses eventos, primeiro para que as pessoas entendam que a igualdade verdadeira hoje ainda é fragilíssima, segundo que exceção não é regra, é preciso deixar claro que apesar de a tempos poder ser uma coisa banal e corriqueira, de fato não o é e é preciso trabalhar para reverter esse quadro de exceção, e por fim mostrar que em havendo oportunidade real os talentos se confirmarão, quantas pessoas negras que poderiam ter vivenciado o sucesso a partir de suas competências foram sistematicamente embarreiradas por conta da cor ? Talvez alguém lembre disso antes de dispensar um jovem candidat@ negr@ de uma oportunidade importante.

  9. Isso não deveria nem ser levado tão a serio.Pois nosso povo convive em harmonia com a questão Racial.Todos sabemos que o Heraldo Pereira é um excelente repórter. E a maju está mostrando que é uma excelente senhora do tempo!

    1. Josemil, a principal característica do racismo brasileiro é ser basicamente META-RACISTA, ou seja, primeiro se nega dizendo não existir, age de forma velada evitando o confronto direito e declarado, atua em especial no embarreiramento sócio-econômico e por fim tenta em nome de um pretenso “antiracismo” varrer a questão “para baixo do tapete” ao mesmo tempo que combate às ações afirmativas efetivas para reduzir a registrada desigualdade social produzida pela historica subalternização negra e pelo racismo. Nosso povo NÃO CONVIVE EM HARMONIA COM A QUESTÃO RACIAL… isso é uma falácia conhecida como “mito da democracia racial” e já foi desmascarada por estudiosos estrangeiros e brasileiros desde a década de 50… ( procure literatura de ORACY NOGUEIRA, HASENBALG OU FLORESTAN FERNANDES), e centenas de estudos recentes demonstram haver sim problemas raciais no Brasil, se não fosse assim não teríamos enormes movimentos negros e indígenas, nem uma Secretaria Especial com status de ministério para atuar na promoção da igualdade racial, nem um Estatuto jurídico para tentar promover a mesma, nem política de cotas para tentar reverter a sub representação negra nos espaços sociais valorizados como o serviço público e a universidade pública…, Enfim competência profissional existe sim e muita, o que não existe é oportunidade generalizada para que negros demonstrem isso… tanto é que são tão raros os negros que atingem esses patamares que qualquer pessoa pode citar de memória a maioria dos nomes de destaque em cada área, o que indica não uma democracia racial mas uma situação de exceção e não regra.

  10. Vejo como um começo ainda muito discreto. A iniciativa para abrir espaço deve partir de cada um de nós, negros. Simonal, citando Martin Luther King dizia: ” cada um negro que for mais um negro virá para lutar, com sangue não …” Essa nossa luta deve ser diária, nos capacitando em dobro, estudando em dobro, aprendendo em dobro. Tudo em dobro; se não a casta dominante não acredita. Inclusive usam a imagem de um negro para tentar matar a “consciência negra”, consciência que muitos negros nem sabem o que vem a ser. Não vamos nos acomodar achando que já está tudo bem. VAMOS LOTAR AS UNIVERSIDADES; COM COTAS, OU NÃO.

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