NA CADÊNCIA DO SAMBA UM NOVO OLHAR SOBRE A ÁFRICA
Por Amanda Cabral
A música é um veículo de comunicação que, além de encantar o espírito, possibilita a transmissão e promove a construção de representações e discursos empregados por diferentes grupos para estabelecer fronteiras de identidade/alteridade.
A utilização dos discursos musicais das agremiações carnavalescas e seus elementos (fantasias, alegorias, adereços, estandartes, alas, instrumentos percussivos e coreografias) na formação de identidades redefiniram as representações e discursos sobre o negro brasileiro e sua ancestralidade africana. A música, nesse caso, serviu para criar um ambiente discursivo de enaltecimento dos valores africanos na formação da sociedade brasileira. A linguagem musical transmite uma série de mensagens de como as agremiações carnavalescas representam o mundo e constroem suas bases simbólicas, pautadas em discursos com princípios étnicos e ideológicos. No Brasil, o estudo da história da África é formado por tronco e chibata. Poucas obras analisam de maneira independente e isenta as sociedades florescidas no passado africano. Sendo assim, baseados no enredo Áfrika do berço da humanidade ao santuário milenar da sabedoria da Escola de Samba Imperatriz do Forte, os compositores Dudu Martins, Adilson Magrinho, Ferreira, Rubinho Sambar, Dilsinho, Nego Dé, Armando e Kaká escreveram de forma clara e concisa essa lacuna da historiografia nacional, atentando-se aos interesses em disputa e as representações sociais que a agremiação faz sobre a África e seu legado cultural no Brasil. Nesse samba, percebemos no discurso dos compositores o protesto e a rememorização do sofrimento dos tempos da escravidão, críticas das questões sociais ligadas ao cotidiano, memória e história bem como representação social e cultural com um discurso de contestação, exaltação e memória.
Segundo o compositor Dudu Martins, a ideia é popularizar o conhecimento e difundi-lo para um publico maior (Carnaval a maior festa popular do Brasil). Assim, em forma de Samba, os compositores apresentam os conceitos africanos pela sua perspectiva ressaltando a anterioridade e definindo termos como civilização, escrita e outros tópicos decisivos.
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Amanda Cabral é Educadora especializada em Relações Étnico Raciais, pesquisadora em História da África e dos Negros no Brasil e membro colaboradora do MNC – Mulheres Negras Capixabas