Afinal, o ator Rodrigo Lombardi foi racista ? ou não ?
O ator global e “galã ” da novela das 23 horas (O Astro), Rodrigo Lombardi; está protagonizando também uma grande polêmica (principalmente na web); que começou ao fazer no programa do Faustão do último domingo (04/09), uma declaração considerada racista por muita gente e “normal” por outro tanto… .
Ao ser instado para citar um ídolo, Lombardi emocionado citou Sammy Davis Jr. (cantor, dançarino e ator negro norte-americano de muito sucesso entre os anos 50 e 90 do século XX) com a seguinte frase : “Tem um cara que eu sou muito fã desde criancinha e acho que foi ele que me fez ser artista, juntamente com meu pai. Era um cara que na sua época era negro, caolho, um metro e cinquenta, chamado Sammy Davis Jr., que quando entrava no palco saía com 2 m de altura, loiro, de olho azul”.
Bem , agora vamos à análise da questão… :
1- É óbvio pelo contexto que a intenção do ator era elogiar e enaltecer Sammy Davis Jr. ; um negro, portanto por inferência, a intenção não era proposital e conscientemente ofensiva e nem racista…, na sua cabeça muito pelo contrário.
2- Por outro lado, racismo é uma ideologia em que grupos étnico-raciais e que detém tradicional e histórica supremacia social e econômica em determinado contexto (no caso ocidental e brasileiro leia-se população branca); exercem sobre outros grupos étnico-raciais, histórica e culturalmente condicionada opressão , exploração, desvalorização cultural e estética e embarreiramento sócio-econômico; impondo seus próprios padrões culturais, estéticos, etc… como sendo “superiores e desejáveis” (etnocentrismo).
3- Rodrigo Lombardi (assim como a maioria dos brasileiros “brancos” ); não tem noção de sua mentalidade racista e eurocêntrica introjetada…; essa mentalidade tem sido elaborada há séculos e passa de geração em geração…, de forma naturalizada e sem maiores reflexões; apesar de no pós-abolição da escravidão as pessoas brancas terem assumido para si e os outros uma posição de que exteriorizar racismo é “feio” (e também pela criminalização da discriminação racial), o preconceito e a discriminação sobrevivem, geralmente de forma velada, “cordial” ou mesmo “inconsciente” ; muitos brasileiros brancos ACREDITAM MESMO não serem racistas (e de fato não tem a intenção consciente de sê-lo…) , mas trazem embutida a mentalidade racista e enxergam com naturalidade a subordinação social e subrepresentação negra, bem como, as imposições eurocêntricas (cabelo liso= bom, cabelo “duro” = ruim, nariz afilado= bonito, nariz largo= feio, “beleza europeia”= boa, “beleza afro” = “não existe”, comportamento bom= “lord/gentleman/dama”, comportamento ruim= “é de índio”, cristão= bom, religião afro= “demônio”, cor branca = pureza /paz, cor preta = mal/ pecado, e por ai vai…) .
Concluindo, do ponto de vista legal, Rodrigo Lombardi não foi racista (não fez declaração intencionalmente depreciativa, ofensiva ou racialmente injuriosa), mas do ponto de vista antropológico/sociológico e de forma “inconsciente” e involuntária, podemos dizer que ele “deixou escapar” sua mentalidade racista (e obviamente eurocêntrica) ao enaltecer um negro, retirando-lhe a “negritude” e atribuindo-lhe de forma “honorária” características pretensamente “superiores” e brancas (loiro, de olhos azuis , etc…, uma descrição de “homem ideal” em nada diferente da defendida por eugenistas e nazistas…), quem “não viu nada demais” na declaração sofre do mesmo problema de mentalidade racista inconsciente… ; fazendo parte daquela turma que usaria sem problemas a expressão “preto de alma branca” para “elogiar” uma pessoa negra; tem gente que não percebe que colocar uma característica “racial” do grupo historicamente “dominante” como “ideal e superior” tem o mesmo efeito prático de inferiorizar as dos outros.
Porém há males que vem para bem…, sendo o ator Rodrigo Lombardi uma pessoa (pelo menos na minha impressão ) que é “do bem” e dada a sua exposição midiática atual, creio que o mesmo já deve ter refletido sobre o fato e deve se engajar de alguma forma no combate a esse tipo de mentalidade geral e inconsciente, a polêmica também deve estar levando muita gente a refletir…
Aproveito para deixar o link para meu artigo que trata detalhadamente do racismo à brasileira : “Não queríamos ser racistas” : http://amazonida.orgfree.com/movimentoafro/nao_queriamos_ser_racistas.PDF
OI Prof. Juarez, a diferença é que ele o racismo dele é aquele não cruento.
É caro Chico, mas nada perto do “estilo Ziraldo” :-), típico racismo inconsciente… mas presente.
Grato pela visita, volte mais vezes.
Abração
Caro amigo,
Infelizmente esse tipo de comportamento (do ator) é muito comum e de forma “inconsciente” vem à tona quando menos se espera!
Pois é Mara, a mentalidade eurocêntrica racista está introjetada na mente de muito brasileiros (inclusive negros); e a maioria nem se apercebe disso , só com muita conscientização é que isso muda., bom ver você de volta aqui pelo blog, abração !
Prezado amigo Juarez,
Em classe, tínhamos comentado, de forma básica, o racismo “inconsciente”. Como você bem falou, somos persuadidos, desde criança, a sermos racistas. Nossa sociedade “fabrica” este racismo, que de forma fantástica você explicou no blog.
Só para registrar, estou fazendo estágio. E na escola que estamos trabalhando foi feita uma Semana Cultural onde falava-se de Religiões.
Infelizmente, para minha surpresa e demais colegas as religões afro e indígenas não estavam presente…pow, é brincadeira…fomos falar com diretor do evento, ao que ele respondeu – tem muito evangélico aqui, eles não iriam entender.
Pow Juarez, pode uma coisa dessas? esses eventos não tem o objetivo de promover a informação, a cultura, a inclusão?
Isso só gera mais preconceito…pow, teve muito aluno que vai achar que só existem aquelas religiões que foram apersentadas, gerando dessa forma, mais preconceito “inconsciente”…o que você me diz?
Valeu pela visita e comentário caríssimo Anselmo 🙂
Pois é…, como eu disse a coisa é tão naturalizada que nem passou pela cabeça do diretor do evento que justo aquela exclusão faria toda a diferença…, não se briga por nem reconhece como importante a diversidade não eurocêntrica…; principalmente se for afro…