“Leu na Veja ?, azar o seu…” II : Daime a “bola da vez”
Imagem retirada de um dos milhares de sites e blogs anti-Veja (não me pergunte qual)
Seguindo a costumeira falta de compromisso com uma coisa chamada jornalismo sério, a revista semanal favorita de quem gosta de ler ficção reacionária com jeitão de "informação relevante"; dessa vez resolveu a partir do assasinato do famoso cartunista Glauco e seu filho, "declarar guerra" ao Santo Daime (doutrina religiosa de origem amazônica).
O Daime (como é mais conhecida), surgiu na década de 30 do século passado no Acre em meio a floresta amazônica, seu fundador era um negro chamado Raimundo Irineu Serra (Mestre Irineu). Que de acordo com a tradição daimista teve uma revelação sobre uma nova doutrina de cunho cristão, a partir de uma experiência com a Ayahuasca (beberagem xamânica que causa "visões", também chamada vinho das almas ou Santo Daime). Diz-se também que Mestre Irineu recebeu a Doutrina em uma das suas "visões" via Santo Daime, em que ocorreu uma aparição de Nossa Senhora da Conceição; a base da doutrina possui influências cristãs através do que eles dizem ser uma "nova leitura dos Evangelhos à luz do Santo Daime", reforçando princípios de Amor, Caridade e Fraternidade (ai já em um "flerte" com a doutrina espírita).
De acordo com a Constituição, "é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;" ; complementando, o uso de substâncias utilizadas em rituais (caso do Santo Daime) é permitido através de resolução federal …
Mas a revista (mais uma vez na contra-mão do bom senso), alardeia irresponsável e "catastróficamente", confunde, questiona sem comprovação, generaliza a exceção, deturpa e o pior de tudo… continua vendendo… .
Não é o caso de fazer "apologia do Daime", defesa do uso de "alucinógenos" de qualquer sorte, ou ser "progressista" … (muito menos de "ignorar" o "perigo" do flerte com situações que podem fugir do controle ou comportamentos e "novidades" nada ortodoxos…), o nosso questionamento mais que com os objetos das tradicionais "polêmicas-vende-revista" semanais, é com a forma com que invariavelmente a revista e seus "jornalistas-satélites" tratam as questões.
Não dá para aceitar calado os descabidos e covardes ataques a tudo e todos…, a serviço de uma ideologia reacionária e de interesses nada populares…, por isso lembro o poema:
“Primeiro vieram buscar os judeus e eu não me incomodei porque não era judeu.
Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era comunista.
Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal.
Em seguida os católicos, mas eu era protestante.
Quando me vieram buscar já não havia ninguém para me defender…”.
(Martin Niemöller (1892-1984), sobre sua vida na Alemanha Nazista.)
Pensem nisso…